28/10/2013

Surpresa! - 2

(Hey! Então, eu decidi fazer histórias separadas, em vez de fazer uma história com vários capítulos e que siga uma certa linha lógica. Assim é mais fácil para mim, porque escrevo quando tenho ideias e imaginação e para alguém que leia só uma vez. Here we go!)



*Ela's POV*
00:59h

Ninguém sabe como eu me sinto, é impossível saberem, não me prestam atenção! Tanto que deixei de comer à dois dias e não repararam. Tal como não reparam nas olheiras enormes por baixo dos meus olhos - terrivelmente disfarçadas com maquilhagem - ou nos meus olhos vermelhos de não dormir há cerca de 3 dias.
Será que é hoje? Será que é hoje que eu involuntariamente fecho os olhos e nunca mais acordo? Espero que sim. Pelo menos não podiam dizer que tinha sido eu a fazê-lo, poupava-me a mais uma vergonha mas... maior vergonha do que o meu reflexo no espelho? Nah, não há!
Lentamente fecho os olhos, respiro fundo e entro num sono que espero que dure para sempre.

07:00h
O meu sonho é interrompido pelo despertador. Afinal não era real, eu não tinha ficado a dormir para sempre. Não, em vez disso eu acordei de novo. Mas porquê? 
Só depois de me sentar na cama e esfregar os olhos é que me apercebo de que pela primeira vez em alguns dias eu dormi durante a noite. Bem, isso é bestial, mas do que me adianta? Nada mudou! Ou será que vivo num daqueles filmes fantásticos em que duas pessoas trocam de corpo? 
Levanto-me e vou até à casa de banho. Nope, ainda continuo a parecer um barril!
Volto para o quarto, visto-me e depois de pronta vou à cozinha encher a minha garrafa de água para ir para a escola.
Como sempre, a minha mãe deixou uma maçã para eu levar para a escola para comer a meio da manhã. Ela diz que se comer durante a manhã, não como tanto ao almoço e não engordo. Mal ela sabe que este vai ser o meu terceiro dia sem comer.

9:45h
Finalmente acabou a procaria da aula, ugh, estava a ver que não!
Levanto-me, pego na minha mala e saio atrás das minhas 'amigas'. Estão a falar da saia de uma rapariga qualquer que passou por nós, mas os meus pensamentos estão bem longe.
"amiga!" - K? O que é que achas? O Zac Efron é mesmo bi ou não? - ela pergunta, desconectando-me dos meus terríveis pensamentos.
Eu - Hm... não sei, pelo que dizem é - finjo interessar-me, quando na realidade estou a lixar-me.
"amiga" 2 - Estás bem? - sussurra ao meu ouvido.
Eu - Sim, claro - sorrio e desvio a conversa até chegarmos ao bar, onde todos os outros da nossa turma e alguns amigos estão a falar.
O cheiro da comida deu-me náuseas e ao mesmo tempo fome, mas não posso comer.
Ah! Agora é que me lembrei! A maçã da minha mãe!
Normalmente eu guardo-a sempre e dou a um senhor sem-abrigo que está na ponte por onde passo para ir para casa ou quando ele não está lá, dou-a ao cão vadio que vagueia pela minha rua. Nunca a como, nunca.
Ele - Então K, estás bem? Pareces cansada... - pergunta um dos meus... amigos? Não sei se somos realmente amigos. Quer dizer, fomos melhores amigos, na verdade, mas quando ele soube da auto-mutilação, da comida... simplesmente deixou-me. Porém, no meio disto tudo ele foi o único que realmente reparou em mim, para além da A2 que já se esqueceu de mim totalmente, porque descobriu que uma das raparigas tem um verniz da nova coleção da OPI, yay!
Eu - Sim, obrigada - finjo um sorriso e levanto-me para ir embora.
Quase tenho receio que ele me trave ou me siga, mas não o faz. Eu queria que ele o tivesse feito.

13:15h
Mais uma aula que acabou. Sinto-me aliviada, apesar de ainda ter mais uma aula.
Mas agora... agora é hora de almoço! O que para mim significa ir para o fundo da escola, ao pé das árvores, e sentar-me de fones nos ouvidos ou a ler.
A1 - Anda K, senta-te aqui, guardei-te um lugar!
Oh, bestial! Agora tenho de ficar aqui com eles, a ouvi-los falar de coisas superficiais, ugh
Sentei-me entre a A1 e a A2, sinta-me a mais, como se não pertencesse ali, mas não disse nada, limitei-me a acenar e a sorrir.
Alguém - Vamos almoçar?- perguntou dirigindo-se para o bar.
Todos concordaram e eu fui atrás deles, não tendo maneira de fugir daquela situação. 
Pediram o que queriam, pagando e fomos embora do bar.
Ele - Não comes, K?
Eu - Tenho aqui uma maçã e como comi à bocado não tenho muita fome - menti, sorrindo.
Ele não me pareceu convencido, mas houve um intervalo em que eu não o vi, eu podia ter perfeitamente comido algo aí. O que não aconteceu, but still.

Todos se sentaram a comer e eu tirei a maçã, olhando para ele e dando uma dentada. Custou-me tanto! Eu pude contar as calorias que estavam a entrar no meu corpo naquele momento, mas ele estava a olhar-me. Preciso de sair daqui e rápido!
A1 -K, esqueci-me de sumo, vens comigo buscar?
É isto mesmo que eu preciso! Levantei-me e fui com a A1 até ao bar, passando por Ele, que ainda olhava para a minha maçã.
Voltámos para perto do grupo e sentei-me no mesmo lugar, deitando a maçã fora. Não gostava de fazer isto quando havia pessoas com fome, mas naquela altura, não tive opção. 
Eu - Am... Eu venho já, vou só à casa de banho.
Peguei na minha mala, fui à casa de banho mais perto e depois de verificar que não estava lá ninguém, obriguei-me a vomitar a dentada de maçã que tinha comido. Depois das calorias fora do meu corpo, lavei os dentes com a escova que tinha sempre na mala e bebi uma garrafa de água inteira para acalmar o meu estômago. 

*

A1 - Finalmente K! Pensava que tinhas ido pela sanita abaixo. -Ela ri e eu finjo que teve piada.
Alguém - vamos lá fora, vá!
Começo a andar, no fim do grupo, quando sinto um braço a puxar-me para a esquerda e levar-me para as escadas escondidas que davam entrada para o palco da sala de convívio.
Aquilo era mesmo um cubículo, tinha as escadas e depois em cima o palco, se me tentassem fazer mal ali, ninguém via, mas quando olhei para ver quem era...
Eu - O que se passa?
Ele - Eu sei que não comeste no intervalo em que não estiveste connosco. Sei que deitaste a maçã fora e que foste vomitar. - Ele diz praticamente sem fazer pausas para respirar.
O quê? Como é que ele... Não pode! Eu disfarço bem... não é? 
Ele - Tu não podes fazer isso, K. Faz-te mal! Olha para ti... estás cansada, a maquilhagem não faz diferença nenhuma para quem realmente olha para ti com atenção!
Eu - Ninguém olha para mim com atenção, que importa? Mete-te na tua vida!
Ele - Eu olho... - ele responde num sussurro e eu finjo que não ouvi.
Eu - O quê?
Ele - Eu olho para ti com atenção - ele volta a dizer, desta vez mais alto - e eu importo-me contigo. Por isso é que te estou a pedir para por favor parares com isso... K, não te faz bem. Tu estás cans-não, tu estás exausta. Há quantas noites não dormes? E quando foi a última vez que comeste?
Eu - Não tens nada a ver com isso. Tu não quiseste saber de mim quando tudo começou, porque queres saber agora?
Ele - Eu estou arrependido! Juro, por tudo! E eu não te abandonei como tu pensas! Eu tenho-te observado, tenho-te tentado ajudar sem tu saberes... Os bilhetes no teu cacifo a dizerem que és linda que tu pensas ser alguém a gozar contigo... tenho sido eu. Tal como o anónimo que todos os dias te pergunta como te sentes no tumblr. Eu estive sempre contigo de forma indireta, porque não sabia o que fazer numa situação...destas - Ele gesticula entre nós.
Eu - Eu vou-me embora...
Ou ia tentar ir-me embora, se ele não voltasse a agarrar-me no braço. Desta vez agarrou num sítio delicado, no meu pulso. Mesmo em cima das minhas cicatrizes mais recentes. A minha cara tomou vida quando dor se espalhou nela e apesar de eu tentar disfarçar, Ele reparou e puxou a minha manga para cima.
O que aconteceu a seguir, foi de deixar cair o queixo no chão. Levou o meu braço à sua cara e beijou as cicatrizes. Uma a uma. O rapaz que me abandonou quando precisei, agora estava a ser o meu maior e único apoio, mesmo que por simples momentos e com um gesto tão simples.
Só reparei que estava a chorar, quando uma lágrima caiu na minha camisola e quando ele levantou a cabeça, voltou a colocar a manga da minha camisola para baixo e limpou as minhas lágrimas.
Ele - Promete-me que vais comer.
Eu hesitei. Não podia prometer isso, muito menos a ele!
Eu - Não posso. 
Eu queria dizer que a maior razão pela qual não lhe podia prometer era porque ele não se importava, mas na verdade eu começava a acreditar que ele realmente queria saber de mim.
Ele - Promete-me que vais tentar! Promete-me que me deixas ficar do teu lado e festejar contigo as tuas vitórias, mas que também me vais deixar estar do teu lado para poder limpar as tuas lágrimas. Eu arrependo-me de te ter deixado, apesar de não o ter feito totalmente, mas eu prometo que nunca mais te vou deixar. Vou segurar-te sempre que fores cair e vou estar sempre do teu lado para te fazer continuar a lutar. Mas tu tens de me prometer que me vais deixar.
Eu - Prometo.


~15 anos depois~
*Ele's POV*
Estava a olhar nos olhos dela e tudo isto me parecia irreal. Tanta gente à nossa volta, todos tão bem vestidos e num sítio tão lindo. Mas o melhor de tudo, era o sorriso dela. 
Passei os últimos 15 anos numa montanha russa emocional. Uns dias eram bons, outros menos bons, mas aos poucos ela conseguiu começar a aceitar-se a ela mesma. A amar-se e depois... depois aprendeu a amar-me a mim, como eu a amava desde aquele dia.
E agora, perante toda a minha família, perante toda a família dela e os nossos amigos, posso declarar o meu amor eterno por ela.
Escolhemos fazer os nossos próprios votos de casamento e era a minha vez.
Eu - Há 15 anos, neste mesmo dia, eu prometi ficar do teu lado e festejar contigo as tuas vitórias e também limpar as tuas lágrimas. Prometi que nunca te ia deixar, que iria segurar-te sempre que fosses cair e que iria estar sempre do teu lado para te fazer continuar a lutar. Mas, hoje, não preciso de mais nenhuma dessas promessas. Tu ergueste-te, transformaste-te numa guerreira como nunca vi! E não podia amar-te mais, ao olhar para o teu braço - digo pegando no braço dela - e poder ver o quão bonito ele está! - chego a minha boca perto do braço dela e beijo o local onde há 15 e há 10 anos estavam as cicatrizes do ódio que ela sentia por si própria.
Eu - Eu amo-te, K. E acredita que, aos meus olhos, sempre foste a mulher mais bonita do universo!

*Ela's POV*
Há 10 anos que não me corto. É verdade. Tudo por causa dele. Ele ajudou-me, procurou reabilitações e pequenos passos e projetos temporários que podia fazer e, graças a ele, estou aqui hoje.
Apesar de nos últimos 10 anos ter querido desistir inúmeras vezes, ele estava lá sempre do meu lado e não me deixou desistir.
Não podia estar mais grata e contente por ser ele o homem com quem hoje vou casar.















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