21/07/2010

Dá-me a tua mão.




  Em 1950 a vida não era nada fácil para uma pessoa como eu. Um..« preto ». Porquê ? Pela simples razão de vivermos sob um regime racista e discriminatório que nos tirou a liberdade e o gosto de viver. Todos os meus sonhos, esperanças e crenças foram destruídos por estes seres cruéis, sem sentimentos. A minha família, tal como muitos outros milhões de famílias, foi separada. Neste momento o meu pai deve estar a cultivar uma qualquer terra de um branco, a minha mãe a descascar batatas e a minha irmãzinha mais nova, a lavar o chão que os brancos vão pisar. E eu..fugi. Ando fugido há dois anos, desde que isto do apartheid começou. Estou em Pretoria, muito, muito longe da minha terra natal, Port Elizabeth.

   Ainda me lembro de uma manhã acordar com o sol que entrava pela janela a bater-me na cara. Iluminava todo o quarto e reflectia-se no pequeno espelho que tinha na parede contrária á janela. Se tudo estivesse em silêncio e eu sustivesse a respiração durante uns segundos..conseguia ouvir o som das ondas a brincar na areia. Vivíamos felizes, numa cabana muito perto da praia. Levantei-me e senti o cheiro do pequeno almoço na mesa.. hum..
   « Tenho tanta fome », pensei. Já não como há algum tempo. Desde que cheguei a Pretoria ontem que não como e o sol está a pôr-se, não posso arriscar ir caçar. Vou parar aqui, estender folhas secas no chão para dormir num local mais suave que as pedras e os pequenos galhos que estão espalhados por todo o lado. Espero que nenhuma cobra decida atacar, preciso de me manter saudável, pelo menos, o mais saudável que conseguir, visto que não vou ao médico há dois anos. Aqui deitado consigo ver a lua a brilhar por entre os ramos altos das árvores. Vou fechar os olhos e quando os abrir é um novo dia na minha vida de fugitivo. Mas, eu acredito que Deus me irá ajudar. Tanto a mim, como á minha família, como ao meu povo. Voltaremos a ser uma nação unida, justa e igual.
   Porque Deus deu-me uma ferramenta chamada esforço para construir a minha vida e para lutar pelo que quero. Eu e todos os da minha raça somos trabalhadores esforçados e mesmo sob esta miséria, no fundo, continuamos a ter esperança que isto acabe. O esforço de cada um de nós, não vale de nada sozinho. Mas mesmo separados, vamos lutar juntos. Uma luta pela liberdade.


    ( p.s.: prefácio da nossa possível história )

1 comentário:

JoanaAmeixa disse...

Nossa possivel historia mhuahahah